Do ES para o mundo: como expandi minhas experiências além das fronteiras capixabas

Espírito Santo 23 de Fev de 2022

Por Manoela Rocha*

Antes mesmo de ter idade para entender o que eram fronteiras, eu já sabia que conhecer apenas um pedaço do mundo não seria suficiente para mim. Ainda em Vitória, ficava fascinada pelas histórias de lugares distantes e de diferentes pessoas ao redor do mundo, graças aos relatos dos meus pais. Eles me apresentavam as mais variadas histórias e apontavam para o meu pequeno globo terrestre, deixando minha imaginação tomar conta do resto, pensando até onde minhas raízes capixabas me levariam.

Quando cresci e mais oportunidades foram surgindo, comecei a explorar com a minha família aqueles lugares que eu antes apenas imaginava, no Brasil e ao redor do mundo. Motivada, então, pelas diferentes perspectivas que eu absorvia das pessoas e dos lugares que visitava, decidi tomar o primeiro passo para fora das terras capixabas aos 16 anos: fui cursar engenharia em São Paulo, na Universidade Federal de São Carlos.

Os aprendizados fora de casa

Na faculdade, me acostumei com a pergunta que se tornava cada vez mais frequente: “em que lugar do mundo você está agora?”, visto que eu aproveitava toda oportunidade que tinha para conhecer novos lugares. Ainda cursando engenharia, realizei intercâmbios para o Reino Unido, México e Austrália. Além disso, já visitei 72 países e morei em 8 deles.

Ao longo das minhas experiências pelo mundo afora, consegui visualizar características em comum e, também, perceber como pequenas diferenças culturais fazem parte do dia a dia, dos conflitos e das relações entre as pessoas que encontrava pelo caminho. Essa perspectiva global tem sido minha principal ferramenta para motivar outras pessoas a causar um impacto positivo na sociedade.

Com minhas viagens, intercâmbios e idas e vindas pelo mundo, acabei desenvolvendo um carinho especial por mulheres muçulmanas e uma curiosidade imensa pela cultura árabe, principalmente pela forte influência da religião no cotidiano.

Querendo, então, explorar pessoalmente essa curiosidade, viajei por um mês pelo Egito, entrevistando moradores das mais diversas localidades antes de chegar ao Cairo, onde me juntei a um centro de refugiados do Sudão do Sul, no qual fiquei por mais seis meses. Lá, minha missão era ensinar o básico de inglês e matemática para aproximadamente 60 crianças refugiadas da guerra.

Ao perceber parte das dificuldades da rotina dessas pessoas, principalmente das mães das crianças, decidi começar um “Roda de Conversa Sudanesa”, um encontro semanal para que elas compartilhassem suas conquistas e também traumas que haviam vivido ao longo da vida. Essas Rodas de Conversa então se tornaram sessões regulares de Empoderamento Feminino, onde tópicos críticos e essenciais como Direitos Humanos, Educação, Independência e Acesso eram discutidos.

Junto dessas atividades em grupo, criamos em conjunto um programa de microfinanciamento para auxiliar essas mulheres a desenvolverem iniciativas para sustentar suas famílias. Com essa oportunidade, muitas começaram a produzir e vender artesanato. Um ano depois, após voltar ao Egito para participar do Fórum Mundial da Juventude, em Sharm-el Sheikh, voltei ao Cairo e tive a felicidade de encontrar algumas das mulheres que já haviam quitado suas dívidas e agora conseguiam oferecer melhores condições às suas famílias, bem como outras que continuavam buscando os microfinanciamentos por meio do programa que havíamos criado.

Extremamente feliz e realizada pelo impacto que consegui realizar no centro de refugiados, decidi me candidatar ao corpo executivo da AIESEC no Bahrein, uma Organização Global não Governamental gerida por jovens, onde fui selecionada como vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional e Intercâmbios. O time nacional era composto por dez pessoas de sete países diferentes.

Com tanta diversidade e em um país cercado de dualidades, liderei a equipe na criação de uma campanha de marketing, que desenvolveu uma estratégia de rebranding e nova proposta de valor para intercâmbios no país. Alcançamos um aumento de 30% na realização de novos programas.

Esse esforço nos rendeu o Prêmio de Excelência Internacional da Organização e, dada a visibilidade que alcançamos, assinamos um contrato com a ONU no Bahrein. Por meio dessa parceria, organizamos o “World’s Largest Lesson” e o Festival Internacional da Juventude, sob o patrocínio do Rei do País: um evento contando com 5 mil participantes de mais de 100 países ao redor do mundo, com o objetivo de chamar a atenção dos jovens sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. A partir desse festival, novas ideias e iniciativas surgiram e, uma vez mais, realizei meu objetivo de criar impacto, me inspirar e inspirar outras pessoas.

De volta ao Brasil

Depois de anos vivendo experiências diversas e enriquecedoras longe de casa, estava na hora da criança que sonhava com terras tão distantes retornar ao Brasil. Regressei, então, para a McKinsey & Company, a maior consultoria de negócios do mundo, onde havia estagiado durante a faculdade e iniciado minha jornada no mercado de trabalho. Lá pude ter exposição a diversas empresas em múltiplos setores, como agronegócio, óleo e gás e varejo, e em diversas geografias, como Gana, Paraguai e Estados Unidos.

Infelizmente, logo que cheguei ao Brasil, o país viveu um dos maiores desastres em ambiente de trabalho de sua história, o qual acabou resultando em diversas fatalidades e um grande dano ambiental. Em meio a esse cenário, me juntei ao time responsável pela resposta imediata, perto de empregados e moradores sobreviventes que perderam amigos, entes queridos e suas moradias na região.

Além da necessidade de termos empatia com a situação das famílias afetadas na região, tivemos de pensar fora da caixa para alocar grandes quantias financeiras em pilares ambientais, socioeconômicos e de infraestrutura. Apesar de ter surgido de uma experiência catastrófica, acredito que o impacto que tive na empresa e na vida das pessoas tornou esse um dos meus projetos mais engrandecedores na minha carreira profissional.

Por essas razões, e com o objetivo pessoal de tornar a indústria mais segura, sustentável e eficiente, me juntei à Aura Minerals, uma mineradora de Ouro e Cobre com atuação nas Américas, para tocar as áreas de Inovação e ESG. Lá, assinei um compromisso com o Women in Mining Brasil, com objetivo principal de aumentar a inclusão de gênero na Indústria, coordenei o desenvolvimento um Relatório de Sustentabilidade, desenvolvi um modelo de valuation para potenciais aquisições e lancei um Prêmio de Inovação para toda a companhia.

Nesse meio, ao observar os impactos sociais e ambientais que o setor possui em comunidades locais, decidi buscar um MBA para impulsionar as transformações que acredito que a indústria ainda precisa. Ingressei então na Harvard Business School, como uma das primeiras mulheres capixabas da faculdade. Por meio dos meus aprendizados por aqui, quero, além de promover tais inovações no meu ambiente de trabalho, incentivar outras capixabas e brasileiras a buscarem novos horizontes profissionais, sabendo que nosso Estado começa a ganhar destaque em âmbito nacional e internacional na geração de novos talentos e de empreendedores.

E assim, já começo a traçar novos planos para retornar ao Espírito Santo. Tenho o profundo desejo de voltar a ficar mais perto da minha família e amigos do Estado, além de começar a construir a minha própria família em solo capixaba.

Com isso, te convido: vamos juntos inspirar pessoas a construir um novo ecossistema de aprendizado, inovação e empreendedorismo no Espírito Santo?

*Engenheira, consultora de negócios e capixaba no MBA de Harvard

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