A descorrelação entre Venture Capital e mercado tradicional

Artigo 20 de Jul de 2021

Nos últimos cinco anos, observou-se um novo patamar de juros na economia brasileira, seguindo mínimas históricas que criaram incentivos para a sofisticação no portfolio dos investidores.

Contudo, esse não é um fenômeno exclusivo no Brasil. Ao redor do mundo, diversos países já passaram por esse movimento denominado Financial Deepening. Em suma, ele representa algumas condições como estabilização do cenário macroeconômico, aumento da previsibilidade dos retornos financeiros e o aprofundamento dos investidores em produtos estruturados pelos players do mercado de capitais.

A partir dessa lógica, produtos mais sofisticados e com maiores expectativas de rentabilidade ganharam mais espaço nesse ambiente.

Por que o Venture Capital não está correlacionado com os investimentos tradicionais?

A partir desse contexto, é possível observar que o Venture Capital (VC) não possui correlação com os investimentos tradicionais observados no mercado financeiro. Mas por quê isso ocorre?

  1. Em muitos casos, as startups estão perseguindo mercados recentemente criados ou tomando participação de mercado de players mais antigos que se movem lentamente.
  2. Muitas startups estão buscando mercados que se tornaram viáveis ​​apenas quando mudanças abruptas criaram circunstâncias favoráveis, como mudanças nas regulamentações, surgimento de novas tecnologias e quedas nos custos de insumos, dada a experiência acumulada do setor.
  3. As marcações não são em tempo real nesta classe de ativo e os ciclos não são afetados da mesma forma.
  4. Em muitos casos, as startups estão competindo por uma fatia menor do mercado, enquanto as companhias já estabelecidas buscam crescimento em um setor com mais concorrido com grande base de receita.

Ainda, diversas outras teses corroboram com a descorrelação entre mercado acionário e o VC, sendo as principais a Destruição Criativa, de Joseph Schumpeter, e a Teoria da Inovação Disruptiva, de Clayton M. Christensen. Ambas afirmam que a criação de novos mercados acontecem com um pequeno começo em segmentos que ainda são ignorados pelos players já estabelecidos e que tendem a oferecer uma rentabilidade inicial menos atrativa.

“Especificamente, à medida que os players já estabelecidos se concentram em melhorar seus produtos e serviços para seus clientes mais exigentes (e geralmente mais lucrativos), eles excedem as necessidades de alguns segmentos e ignoram as necessidades de outros. Os participantes que provam ser perturbadores para o mercado começam por visar com sucesso os segmentos negligenciados , ganhando uma posição ao entregar funcionalidades mais adequadas — frequentemente a um preço mais baixo.”

Fonte: “O que é inovação disruptiva?” Por Clayton M. Christensen, Michael E. Raynor e Rory McDonald

Os modelos disruptivos

Modelo de inovação disruptiva

As grandes inovações disruptivas originam-se em momentos de baixo custo ou em mercados que ainda não foram explorados. Os novos players encontram maneiras de transformar não consumidores ou consumidores não rentáveis em clientes atrativos e lucrativos para a indústria, explorando um novo profit pool.

Além disso, o estudo da Invesco “The Case for Venture Capital”, por exemplo, mostra que o Venture Capital não está correlacionado com as grandes capitalizações nos mercados públicos dos Estados Unidos. O coeficiente de correlação encontrado é de -0,06, longe de 1 (100% correlacionado) e -1 (100% correlacionado negativamente) e próximo de zero, indicando a ausência de correlação, em certa medida.

A correlação de diferentes classes de ativos

No Brasil, o mercado ainda conta com poucos casos de empresas apoiadas por VC que estão listadas na Bolsa. Ao levar em consideração o mercado americano, percebe-se o impacto econômico ligado aos investimentos nesse segmento. O estudo The Economic Impact of Venture Capital: Evidence from Public Companies, de Will Gornall da University of British Columbia e Ilya A. Strebulaev da Stanford University, descreve que em um período de 30 anos, 1974 a 2014, os investimentos em VC foram a força dominante no financiamento das empresas listadas em bolsa americanas. As empresas apoiadas por capital de risco representavam 43% das companhias listadas, mas tinham 63% do market size.

O potencial do VC no Brasil e na América Latina

Nesse contexto apresentado,  ainda há um grande caminho a percorrer no Brasil em relação aos investimentos em Venture Capital. Contudo, em meio ao atual contexto econômico, esse mercado é uma das formas de descorrelacionar os retornos de produtos financeiros mais tradicionais e buscar maiores rentabilidades.

Isso porque de acordo com a Teoria Moderna da Carteira, o capital de risco pode ajudar os investidores a diversificar e reduzir o risco em um portfolio composto majoritariamente por ações públicas.

“A moderna teoria de portfólio (MPT) afirma que um investidor pode obter diversificação e reduzir o risco de perdas, reduzindo a correlação entre os retornos dos ativos selecionados para a carteira.” Investopedia

Dessa forma, observa-se que a construção de valor para as empresas de capital privado cresce de forma acelerada na América Latina. Verificamos isso quando olhamos a curva de tempo para a construção de unicórnios.

Os grandes retornos se derivam da geração de valor da companhia e da evolução de sua avaliação de mercado. O conjuntura atual, onde o mercado de capitais se torna mais sofisticado, não só para indivíduos como para empresas, há maior atração para o financiamento e a abertura de capital para empresas privadas.

Por isso, ao estar inserido nessa realidade, as projeções são positivas para o cenário de crescimento no Brasil tanto no número de novos deals de VC quanto no volume transacionado, possibilitando o financiamento de empresas modernas e inovadoras.

Autor

Peter Ernst, analista de Venture Capital, Private Equity e Dívida da APEX Partners

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