Estratégia do Preço Médio: como ganhar dinheiro na Bolsa

Artigo 29 de Mar de 2021

Ganhar dinheiro na bolsa não é uma ciência exata, nem uma tarefa fácil, mas pode ser uma tarefa simples. Neste texto vamos abordar a Estratégia do Preço Médio.

Investir X Especular

Antes de tudo, é fundamental entender a diferença entre investir e especular:

Investir é analisar determinado ativo, identificar todos os riscos existentes e, com base nisso, comprá-lo abaixo do seu real valor ou valor potencial, esperando sua valorização no longo prazo e com proteção contra grandes perdas. O seu foco, portanto, é na performance do ativo, que pode ser uma empresa (ações), um imóvel, etc.

Já especular é tudo que não cumpre o descrito acima. Ou seja, comprar ativos sem conhecê-los, nem identificar todos os riscos, ter uma visão de curto prazo, buscar retornos extraordinários e assumir riscos de grandes perdas. O foco, nesse caso, é na variação no preço do ativo, e não no seu desempenho (como, por exemplo, o crescimento de lucros de uma empresa). E, como sabemos, o preço no curto prazo tende a ser aleatório, seguindo o humor dos investidores globais conforme as notícias e acontecimentos macroeconômicos, fatos políticos, desastres naturais, entre outros fatos do dia a dia.

Ou seja, trading é especulação. Comprar uma ação esperando subir em poucos meses, semanas, dias ou até no mesmo dia (day trade), não é investimento e sim apostas com base em algum fundamento dentre das inúmeras técnicas desenvolvidas até hoje. O trading exige tempo, dedicação e foco. Em outras palavras, ficar colado na tela do computador ou celular acompanhando o mercado durante boa parte do pregão (de segunda a sexta, das 9 às 18 horas).

Coincidentemente (ou não), esse é o horário que normalmente estamos trabalhando. E, como sabemos, o que enriquece é o trabalho. É a sua empresa, que exige dedicação em tempo integral, é o seu consultório, os seus clientes. Investimentos são apenas um meio de proteger o capital contra a inflação e valorizá-lo um pouco mais em longo prazo.

Então qual a melhor forma de investir?

Para uma pessoa que pretende focar em seu trabalho, ser um investidor ao invés de especulador é muito mais vantajoso. Por exemplo, uma das formas de se investir em ações é fazer aportes recorrentes todos os meses, ao longo de anos, sem se preocupar com tentar acertar os fundos do mercado. Isso parece simples, e é.

Não é fácil, porque exige a disciplina de não resgatar os recursos quando há grandes momentos de volatilidade ou quando acontece algum crash, como o que vimos em março de 2020 graças ao Covid-19.

É tão simples que você deve estar se perguntando: será que dá para ganhar dinheiro assim?

Tentar acertar comprar na baixa e vender na alta não vale mais a pena?

Quem melhor responde isso é Nick Maggiulli, responsável pelo ótimo blog Of Dollars And Data.

Abaixo, traduzimos o artigo Even God Couldn’t Beat Dollar-Cost Averaging ou “Nem Deus conseguiu bater a estratégia do Preço-Médio”.

Nele Maggiulli destrincha um levantamento comparando um investidor que fazia aportes todos os meses, sem resgatar em crises e sem olhar o preço, com outro investidor omnisciente, que sabia exatamente quando o mercado estava na mínima – ou seja, um “Deus”.

É uma leitura longa, mas vale muito a pena. Mudou a minha vida de investidor e pode mudar a sua, te livrando de mitos, medos e amarras criadas pelo marketing vendedor de métodos de ganhar dinheiro fácil e rápido no mercado. Boa leitura!

Nem Deus conseguiu bater a estratégia do Preço Médio

Este é o último artigo que você precisará ler sobre timing de mercado. É uma proposta ousada, mas não estou de brincadeira. Para começar, vamos jogar um jogo:

Imagine que você caiu em algum momento da história entre 1920 e 1979 e você tem que investir no mercado de ações americano pelos próximos 40 anos. Você tem duas estratégias de investimentos para escolher.

  • Preço Médio (Dollar-cost averaging “DCA”): você investe U$$ 100,00 (ajustado pela inflação) todos os meses pelos próximos 40 anos.
  • Comprar no Fundo (Buy the Dip): você guarda U$S 100,00 (ajustado pela inflação) todos os meses e só compra quando o mercado faz uma correção. Uma correção é definida sempre que o mercado não está em uma máxima histórica. Mas, eu vou fazer essa estratégia ainda melhor. Não só você vai comprar em uma correção, mas eu vou fazer você omnisciente (ou seja, um Deus) sobre quando comprar. Você vai saber exatamente quando o mercado está em um fundo absoluto entre duas máximas históricas. Isso vai garantir que, quando você faz a compra, seja sempre no menor preço possível.

A única outra regra nesse jogo é que você não pode sair ou entrar do mercado. Uma vez que você fez a compra, você deve carregar até o fim do período.

Então, qual estratégia você escolheria: Preço Médio ou Comprar no Fundo?

Logicamente, aparentemente Comprar no Fundo é a melhor escolha. Se você sabe quando ocorre a mínima do mercado, você pode sempre comprar o menor preço relativo às máximas históricas do período. Entretanto, se você testar essa estratégia verá que Comprar no Fundo performa pior que Preço Médio mais do que 70% do tempo.

Isso é verdade mesmo partindo do princípio que você sabe exatamente quando o mercado está no fundo. Sim, “nem Deus conseguiu bater a estratégia do Preço Médio”.

Por que isso é verdade? Porque comprar no fundo apenas funciona quando você sabe que uma queda severa irá ocorrer e você consegue acertá-la perfeitamente. Como correções, especialmente as grandes, não aconteceram muito no mercado de ações americano (por exemplo 1930, 1970 e 2000), essa estratégia raramente ganha. E, nos momentos que ela consegue de fato vencer o Preço Médio, requer um timing impecável, difícil de acertar. Errar o fundo por apenas 2 meses reduz as chances de performar melhor de 30% para 3%.

Estratégia do Preço Médio

Surpreso? Você não precisa confiar apenas nas minhas palavras, vamos atrás dos detalhes para ver por que isso é verdade.

Para começar, vamos considerar o mercado americano entre janeiro de 1995 até dezembro de 2019 para nos familiarizarmos com essa estratégia. Abaixo, ilustrei o S&P 500 (com dividendos e ajustado pela inflação) durante esse período com todos os topos históricos marcados de verde.

Já no gráfico abaixo consta a mesma ilustração de cima, mas adicionei um ponto vermelho para cada fundo no mercado (a maior queda entre dois topos). Esses fundos são os pontos onde a estratégia “Comprar no Fundo” faria suas compras.

Como você pode ver, os fundos (pontos vermelhos) ocorrem no menor ponto entre dois topos históricos (pontos verdes). O fundo mais proeminente nesse período ocorreu em março de 2009 (o ponto solitário próximo de 2010), que foi o menor ponto após a máxima em agosto de 2000. Entretanto, você também perceberá que há vários pontos menos proeminentes fundos que aparecem entre as máximas. Esses fundos ocorrem durante bull markets.

Como funciona a estratégia Comprar no Fundo

Se quiséssemos visualizar como a estratégia Comprar no Fundo funciona, eu teria ilustrado a quantidade de dinheiro que a estratégia teria investido no mercado e o saldo de dinheiro guardado durante esse período:

Toda vez que essa estratégia compra no mercado (os pontos vermelhos), o saldo de dinheiro (triângulo verde) vai para zero e o valor investido move para cima proporcionalmente. Isso é mais óbvio quando olhamos para março de 2009, quando, depois de nove anos guardando dinheiro, U$S 10.600 são investidos no mercado.

Se compararmos o valor do portfólio de “Comprar no Fundo” (azul claro) e “Preço Médio” (preto), você verá que Comprar no Fundo começa performando melhor a partir da compra de março de 2009.

Se você deseja entender por que essa única compra é tão importante, vamos considerar quanto cada compra individual da estratégia de Preço Médio cresce ao final do período. Cada barra preta no gráfico abaixo representa quanto uma compra de U$S 100 cresceu até dezembro de 2018.

Por exemplo, os U$S 100 investidos em janeiro de 1995 se tornaram mais que U$S 500. Os pontos vermelhos (de novo) representam quando a estratégia Comprar no Fundo faz suas compras:

Esse gráfico ilustra o poder de comprar no fundo, já que cada U$S 100 investidos em março de 2009 (o único ponto vermelho próximo de 2010) tornou-se aproximadamente U$S 350 em dezembro de 2018. Essa única compra (e sua valorização) contabilizam mais do que 52% do valor do portfólio final da estratégia Comprar no Fundo em dezembro de 2018.

Quando Comprar no Fundo será melhor que no Preço Médio?

Além disso, existem outras duas coisas a serem notadas no gráfico anterior:

  • Os pagamentos mais antigos, na média, cresceram mais (ponto para os juros compostos)
  • Existem diversos grandes fundos, em que alguns aportes renderam muito mais que os outros.

Se colocamos esses dois pontos juntos, isso significa que Comprar no Fundo será melhor que Preço Médio quando grandes fundos acontecem no começo do período. O melhor exemplo disso é o período de 1928-1957, que contém a maior depressão da história do mercado de ações americano (em junho de 1932).

Comprar no Fundo funciona incrivelmente bem durante esse período porque as compras aconteceram no maior fundo que já existiu e bem no começo do período de análise. Cada U$S 100 investidos no fundo, em junho de 1932, tornaram-se U$S 4.000 em termos reais (isto é, acima da inflação)! Não existiu nenhum outro período na história do mercado de ações americano que chegam perto disso*.

Sei que parece que estou tentando vender a estratégia de Comprar no Fundo, mas os períodos 1995-2018 e 1928-1957 são os períodos em que severos e prolongados bear markets (crises seguidas de períodos de baixa) aconteceram.

Historicamente, Comprar no Fundo não é mais vantajoso

Se observarmos durante maiores períodos de tempo, historicamente, Comprar no Fundo não ganha na maior parte do tempo. O gráfico abaixo mostra a quanto Comprar no Fundo performam melhor durante um período de 40 anos. Melhor performance é considerada quando o valor do portfólio de Comprar no Fundo é maior que o valor do portfólio do Preço Médio.

Já no gráfico abaixo, quando Comprar no Fundo termina com mais dinheiro, a linha fica acima do 0%, e quando termina com menos dinheiro, fica abaixo de 0%. Para ser preciso, mais do que 70% do tempo, Comprar no Fundo perde para o Preço Médio.

O que você irá notar é que Comprar no Fundo começa bem no começo do período próximo de 1920 (graças ao bear market severo dos anos 1930) com um valor final 20% acima do que a estratégia do Preço Médio. Todavia, para de ir bem logo após os anos 30 e performa cada vez pior. O ano de pior performance comparada ao Preço Médio ocorre imediatamente após o bear market de 1974 (começando em 1975).

O período de 1975 a 2014 é particularmente ruim para Comprar no Fundo porque perde o fundo que ocorreu em 1974. Começando em 1975, o próximo topo histórico no mercado não ocorreu até 1985, significando que não existiu fundo para comprar até depois de 1985. Devido a esse desafortunado timing para comprar no fundo, Preço Médio facilmente performa melhor:

Você pode ver isso mais claro se observarmos a valorização dos aportes no período:

Como você pode ver, diferentemente dos gráficos de 1928-1957 ou 1995-2018, Comprar no Fundo não comprou grandes fundos em grandes bear markets no começo do período. Até comprou na crise de 2009, mas foi tão no fim da simulação que acabou não sendo tão benéfico.

Conclusões

Meu ponto nisso tudo é que, Comprar no Fundo, mesmo com informações perfeitas, normalmente performa pior que os aportes recorrentes. Então se você está tentando guardar dinheiro para comprar o próximo fundo, você provavelmente estará pior do que comprar todos os meses. Por quê? Porque enquanto você espera pelo próximo fundo, o mercado tenderá a continuar subindo e te deixar para trás.

O que faz a estratégia Comprar no Fundo ainda mais problemática é o fato de que assumimos que sempre saberíamos quando estávamos em um fundo (você não saberá). Eu rodei uma variação de Comprar no Fundo quando a estratégia errava o fundo por 2 meses, e adivinhe?

Errar o fundo por apenas 2 meses faz com que o Preço Médio performe melhor que Comprar no Fundo 97% das vezes! Então, mesmo se você está acertando de forma decente os fundos, você vai perder dinheiro em longo prazo.

Escrevi esse post porque às vezes ouço histórias sobre amigos que guardam dinheiro para “comprar no fundo” quando eles estariam muito melhores se apenas continuassem comprando. Meus amigos não percebem que seus tão amados fundos de mercado e correções podem demorar muito para acontecer. E quando eles esperam, podem perder meses (ou mais) de crescimento de juros compostos.

Afinal, se “nem Deus consegue vencer a estratégia do Preço Médio”, quais chances você tem?

*Nota do tradutor: esse artigo foi escrito antes da crise do COVID19.

APX Investimentos

A Apx Investimentos é o braço de assessoria de investimentos e gestão patrimonial da Apex e, desde 2019, conta com parceria do BTG Pactual — o maior banco de investimentos da América Latina e com uma equipe de research premiada.

O time conta com atendimento inclusive para empresas, auxiliando na gestão de caixa e em investimentos de médio e longo prazo, crédito e câmbio. Além disso, o processo de escolha de portfólios na Apx Investimentos conta com uma estrutura de incentivos para não comprometer a qualidade da escolha de portfólio do cliente.

Texto traduzido por

Bernardo Fusato

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