Menor crescimento no exterior e maiores riscos no Brasil definem cenário

Análise 1 de Nov de 2021

O mês de outubro reforçou o cenário que vinha despontando no fim de agosto. As maiores economias, China e Estados Unidos, mostram menor crescimento com inflação alta nos EUA. Já na Europa, o crescimento continua lento e a inflação continua em elevação.

Neste cenário, há expectativas sobre o anúncio do início do “tapering” pelo Federal Reserve (Fed) em sua reunião na primeira semana de novembro. Já o Banco Central Europeu (ECB) e o Banco do Japão (BoJ) mantiveram suas taxas de juros em suas reuniões de outubro, embora o ECB anunciou redução no ritmo de compra de ativos.

No Brasil, os dados continuam a apontar crescimento em queda, à medida que aumenta o risco fiscal e da inflação, com a forte pressão no Congresso e do governo para aumentarem os gastos com nova rodada de auxílio.

Este ambiente de inflação, menor crescimento e com a redução dos estímulos monetários já sendo precificados, permitiu a retomada da valorização do mercado acionário nos EUA. No Brasil, a maior incerteza com elevação do risco fiscal e inflacionário gerou nova queda no Ibovespa, além da desvalorização do real e do aumento do risco Brasil.

Mercado externo

Os dados liberados em outubro confirmaram a queda do crescimento na China e dos EUA e manutenção da recuperação na Europa. Já a inflação continua elevada nos EUA e acelerando na Europa.

Comecemos com a Europa, onde a economia está em recuperação. Na Zona do Euro, os Índice dos Gerentes de Compras (PMI em inglês) de manufaturas e serviços de outubro têm pequena queda, passando de 58,6 para 58,5 e de 56,4 para 54,7. Mas, o PIB do 3º trimestre teve alta, mostrando que a economia continua em recuperação (Gráfico I).  Já no Reino Unido (UK), os PMIs de manufaturas e serviços de outubro apresentaram alta, passando de 57,1 para 57,7 e de 55,4 para 58. Além disto, a produção de manufaturados de agosto subiu 0,5% (embora as vendas no varejo caíram 0,2% em setembro).

Na China, o PIB do 3º trimestre de 2021 teve queda de crescimento anualizado (ver Gráfico II), além de ficar abaixo do esperado (5,2%). A produção industrial em setembro teve alta de 3,1%, mas também ficou bem abaixo do esperado (4,5%). Já os PMIs de manufaturas e de serviços (“non-manufacturing”) de outubro tiveram quedas, passando de 49,6 para 49,2 e de 53,2 para 52,4.

Nos EUA a economia também perdeu ritmo. O PIB do 3º trimestre de 2021 teve alta de 2%, abaixo do esperado (2,7%). Finalmente, o PMI de manufaturas de outubro dos EUA apresentou queda, passando de 60,7 para 59,2, mas o de serviços subiu de 54,9 para 58,2.

Um ponto de preocupação nas maiores economias, continua sendo a elevada e persistente inflação para o consumidor e para os produtores.  Os preços para o produtor (PPI em inglês) continuaram a subir: China (10,7%), Zona do Euro (13,4%) e EUA (8.6%). Já os preços para os consumidores (CPI), embora mais baixos, continuam acima da meta no UK (3,1%), nos EUA (5,4%) e na Zona do Euro (3,4%).

Com a elevada inflação nos EUA e a recuperação da economia, há expectativa de que o Fed vá anunciar em sua reunião no início de novembro, a data para o início do “tapering”, abrindo caminho para a retirada dos estímulos monetários e para um futuro aumento dos juros.

Por fim, vale notar que Congresso americano aprovou orçamento e aumento do teto da dívida que permite financiar o governo até dezembro de 2021. Mas, o debate em torno do teto deve continuar tendo em vista a tentativa do governo americano de aprovar novos gastos (inicialmente, em torno de US$ 3,5 trilhões) que devem elevar novamente o déficit público e endividamento do governo federal dos EUA.

Mercado interno

Como sempre fazemos, vamos começar listando as expectativas do Boletim Focus e os dados econômicos. O crescimento esperado para 2021 teve nova queda e está em 4,97% (há um mês era de 5,04%). Já a inflação esperada continua em alta. Era 8,45% no fim de setembro, está em 8,96% no fim de outubro. Já a Selic esperada para dezembro de 2021 subiu de 8,25% no fim de setembro para 8,75% no fim de outubro.

Quanto aos dados, continuam a indicar crescimento da economia brasileira, mas com queda de ritmo. Assim, a produção industrial de agosto teve nova queda de 0,7% e as vendas no varejo tiveram queda de 3,1%, o IBC-Br de setembro teve queda de 0,15%. Finalmente, segundo o CAGED a economia brasileira criou 313,9 mil empregos em setembro e o setor de serviços tenha crescido 0,5%.

Embora o mercado internacional teve em outubro um mês de recuperação e a economia brasileira também continue crescendo, devemos mencionar mais alguns acontecimentos no Brasil que dominaram o mercado doméstico e impediram a valorização dos ativos domésticos.

Primeiro, com a inflação alta e em elevação, o Banco Central do Brasil (BCB) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual (p.p) em sua reunião de outubro, sinalizando novo aumento (de 1.5 p.p) na próxima reunião. Finalmente, a pressão pelo aumento de gastos pelo governo e/ou Congresso continuam. A PEC dos Precatórios (PEC 23/2021) deve abrir espaço para forte aumento dos gastos. A sua discussão no Congresso dominou o cenário gerando volatilidade e perda de valor de mercado das empresas, elevando o risco fiscal e o risco Brasil.

Como sempre temos falado, as perspectivas da economia e dos preços dos ativos nos próximos meses dependem: (i) da vacinação e contenção da pandemia; (ii) manutenção da estabilidade política interna; (iii) avanço das reformas, reduzindo o risco fiscal e inflacionário.

Quanto ao item (i), temos tido avanço na vacinação e queda do número de novos casos. Quanto ao item (ii), o pedido de demissão de vários membros da equipe econômica gera instabilidade e mostra os conflitos dentro do governo. Quanto ao item (iii), as reformas macro continuam não agradando. Já a tentativa de alterar o Teto dos Gastos aumentou o risco fiscal e inflacionário, dominando o cenário doméstico no último mês levando o mercado no Brasil a descolar do exterior.

Renda Fixa: Estados Unidos

O aumento dos retornos dos títulos do governo dos EUAno início de 2021,foi impulsionado pelo aumento da inflação e a possibilidade de iniciar o “tapering”. Mas, estes aumentos foram revertidos pela postura do Fed, sinalizando não ver razões para iniciar o “tapering” (Gráfico III).

Mas, a partir de setembro, os retornos voltam a subir. Primeiro, o comunicado do Fed de que deve iniciar o “tapering” em breve. Segundo, os dados indicando que a maior parte dos membros do FOMC querem aumento dos juros já para 2022 devido a elevada e persistente inflação.

Nos próximos meses, dois fatores devem continuar elevando os retornos. O primeiro é a implementação do “tapering” e do aumento dos juros. O segundo fator, é o teto para o endividamento do governo dos EUA que foi estendido até dezembro de 2021. A aprovação da proposta democrata de gastos de US$ 3,5 trilhões (“Build Back Better”) deve aumentar ainda mais o déficit americano podendo gerar nova elevação nos retornos.

Renda fixa: Brasil

Os retornos dos títulos públicos brasileiros sobem desde agosto de 2020, com o aumento do risco fiscal, do risco inflacionário e da instabilidade política interna (além da elevação e dos retornos dos títulos do governo americano).

Após uma breve estabilização no segundo trimestre, a pressão por aumento dos gastos, a limitação das reformas discutidas no Congresso e o aumento da carga tributária têm aumentado os riscos internos, reduzido o crescimento e voltando a elevar os retornos.

Este cenário sendo agravado em outubro com a alteração do teto dos gastos permitidas com a PEC dos Precatórios (Gráfico IV).

Nos próximos meses, os retornos dos títulos continuam dependendo: (i) do avanço da vacinação e do crescimento; (ii) da estabilidade política; (iii) redução dos riscos fiscal e inflacionário; (iv) do “tapering” e do retorno dos títulos americanos.

Quanto maior a instabilidade política, o risco fiscal e inflacionário, maiores devem ser os retornos dos títulos públicos (como ocorreu em outubro). Claro que o início do “tapering” nos EUA deve aumentar os retornos ainda mais.

Renda Variável/Ações: Estados Unidos

O comunicado do Fed em setembro sobre o início do “tapering” e a possibilidade de subir os juros já em 2022 interromperam a tendência de alta dos principais índices do mercado americano (Gráfico V). Mas, uma vez precificado o início do “tapering”, os mercados retomaram a tendência de valorização.

Entretanto, a implementação do “tapering”,num ambiente de elevada inflação, pode ainda afetar negativamente o valor das empresas. Se for feito num ritmo mais rápido do que esperado, o aumento dos retornos dos “treasuries”, deve gerar nova realocação dos investimentos para a renda fixa (e para os EUA).

Finalmente, o impasse no Congresso dos EUA para reajustar o teto do endividamento e aprovar o novo plano de gastos democrata, adiciona um novo fator de incerteza, podendo acelerar ainda mais a alta dos retornos.

Renda Variável/Ações: Brasil

Desde junho, o cenário doméstico tem gerado instabilidade, levando o Ibovespa a descolar do mercado externo, devolvendo toda a valorização do ano (Gráfico VI). Entre as razões, estão os conflitos institucionais, as limitações das reformas com aumento da carga tributária e dos gastos públicos.

Em síntese, embora a economia esteja crescendo, o ambiente de instabilidade interna domina, levando a queda do valor das empresas brasileiras.

Em outubro, como podemos ver no Gráfico VI, esta pressão por mais gastos tomou corpo com a PEC dos Precatórios, levando a uma queda ainda maior do Ibovespa, devido ao aumento do risco fiscal.

As perspectivas do mercado acionário do Brasil nos próximos meses dependem: (i) da recuperação/vacinação; (ii) da estabilidade política; (iii) da redução do risco fiscal e inflacionário; (iv) do cenário externo (“tapering”).

Mantido o cenário doméstico atual, com expansão dos gastos domésticos e do risco fiscal, a tendência de queda do valor das empresas brasileiras tende a continuar. Estes movimentos tendem a piorar se persistir o aumento dos retornos dos títulos dos EUA (com o início do “tapering” e o aumento dos juros pelo Fed), puxando ainda mais os juros domésticos.

Autor

Arilton Teixeira, economista-chefe da Apex Partners

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