Futuro do ensino superior: a visão do mercado

Opinião 29 de Mar de 2021

Estamos habituados ao sistema tradicional de ensino em que as instituições possuem grandes instalações físicas, uma grade curricular inflexível e inexiste um ambiente que incentiva a criação. Além disso, os alunos vivenciam a dinâmica de mercado apenas quando ingressam em um programa de estágio. E pior, muitas vezes somente após a conclusão da graduação. O mercado de educação hoje é de US$ 6,5 trilhões e deve chegar a US$ 10 trilhões até 2030. Como se dará esse crescimento e o futuro do ensino superior? A resposta passa por três principais fatores.

Países emergentes

O mundo terá 1 bilhão de pessoas a mais até 2030, segundo a consultoria Holon IQ. Além disso, os países emergentes continuarão sendo o motor da economia global, justamente nações que possuem um déficit educacional muito grande. No Brasil, um dos maiores mercados do mundo, apenas 21% dos jovens possuem ensino superior completo. Argentina e Chile, por exemplo, possuem índices de 40% e 34% respectivamente. Quando comparamos com os países desenvolvidos, vemos que existe uma grande lacuna a ser preenchida no país e nos demais países emergentes.

O grande desafio é que, à exemplo do Brasil, os países emergentes possuem populações carentes que precisam de uma alternativa para superar as barreiras impostas pelo ensino tradicional. O modelo tradicional requer muito investimento por parte dos empresários ou governo. Isso porque exigem a construção de estruturas e contratação de mão de obra dedicadas para cada unidade de ensino. O resultado disso é: ou preços altos, ou qualidade baixa.

Ensino a distância

Nesse contexto, alguns países já buscam alterar essa sistemática. Na última década, por exemplo, o ensino a distância (EAD) cresceu dez vezes na América Latina e o Brasil acompanhou essa tendência. Em 2018, 24% das matrículas em cursos de graduação foram na modalidade a distância, segundo o Censo de Educação. Os Estados Unidos também apresentaram crescimento ano a ano nessa modalidade na última década.

O mercado de graduação online é um dos segmentos que mais cresce no ensino superior global. E, com a pandemia, a digitalização do ensino, principalmente superior, deixou de ser o futuro e passou a ser o presente.

Metodologia de ensino

A fórmula de sucesso que vigorou até então era de cursar o ensino superior para assim ter as credenciais para entrar no mercado de trabalho. Entretanto, o mercado atual exige outro tipo de profissional e os alunos demandam outro tipo de ensino. Uma pesquisa do fundo de investimentos Atlântico mostrou que 39% dos estudantes universitários pretendem fundar uma startup no futuro. E o setor de preferência dos jovens é justamente o de educação. Provavelmente, os estudantes não estão contentes com a metodologia de ensino que vivenciaram.

Grande parte das instituições oferecem uma grade curricular padronizada, inflexível e nada personalizada. É muito comum também alunos se formarem e terem sua primeira experiência profissional apenas quando saem da faculdade. Outro ponto importante é a inexistência de estímulos à criação, inovação, empreendedorismo e a falta de estímulo ao desenvolvimento de habilidades complementares e tão requisitadas pelo mercado, como comunicação, liderança e comportamento. A consequência é a formação de profissionais pouco preparados para suportarem as dificuldades impostas pelo mercado. Dessa forma, é dificultada a entrada no mercado de trabalho e a curva de aprendizado se torna muito mais longa.

Diante desse cenário, as principais instituições de ensino do mundo já tomaram medidas para preencher essa lacuna. Harvard, Oxford e Stanford, dentre outras, implantaram hubs de inovação dentro de seus campus com o intuito de fomentar a metodologia de ensino de aprendizagem prática, ou solução de problemas, “learning by doing” em inglês.

Assim, startups são selecionadas para atuarem dentro dos hubs permitindo que os alunos atuem para solucionar os problemas apresentados pela empresa e quem sabe se tornarem sócios delas. Respira-se, nesses ambientes, inovação, empreendedorismo, criatividade e desafios. É muito provável que dessas Universidades, saiam mais empreendedores e profissionais mais preparados para o mercado do que daquelas com a metodologia de ensino tradicional.

Mercado aquecido

Há atualmente 40 empresas listadas em bolsa com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão, quatro vezes mais do que há cinco anos. Essas empresas alcançaram patamares tão expressivos por meio de aquisições.

O Brasil, nos últimos anos, foi um dos destaques nas transações. Em 2018, a Kroton adquiriu o controle da Somos Educação por US$ 1,7 Bilhão, maior transação do setor de educação no ano. Em 2019, a YDUQS adquiriu o IBMEC por US$ 472 milhões, maior transação de educação superior do mundo naquele ano.

Ainda, de acordo com a Holon IQ, fundos de bilhões de dólares estão sendo criados para investir no setor de educação dos países emergentes.

O ensino superior e a educação do futuro devem ser mais inovadores, modernos, digitais, práticos e dinâmicos — e o mercado educacional precisará se adaptar rapidamente a esse admirável mundo novo.

Autor

Felipe Caroni
Head de Private Equity e Venture Capital da Apex Partners

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