BTG aumenta projeções de lucro das empresas brasileiras em 2021

Análise 29 de Mar de 2021

Em meio à retomada econômica, os dados sobre a economia brasileira apontam para uma recuperação que surpreendeu positivamente. O balanço de diversas empresas mostrou números mais favoráveis que do a expectativa de mercado. Isto é, o BTG Pactual revisou em 7,8% as estimativas de lucro das empresas brasileiras para 2021, em especial devido ao possível ciclo de alta das commodities.

As empresas do setor de serviços financeiros representam parte considerável do Ibovespa. Mas estas devem continuar encontrando dificuldades de crescimento no curto prazo em virtude da crise. Se o desempenho delas fosse desconsiderado, a receita doméstica cresceria 19% em 2021 ante 2019.

A previsão do BTG para o crescimento do PIB de 2020 foi de queda de 4,2% e de 2021, de alta de 3,5%.

Bancos e setor financeiro

Entre os fatores que contribuíram para a retomada do setor estiveram medidas governamentais para cortar custos, mão de obra e pagamento de salários. Além disso, as ações do Banco Central e do governo para divulgar programas de ajuda financeira a fim de aumentar a liquidez do sistema financeiro e a queda da taxa Selic.

Quando olhamos para a relação Preço/Lucro dos últimos 12 meses, os bancos aparecem como o quarto segmento mais descontado, com 9,6x contra 11,8x do Bovespa. Por um lado, a provável alta da Selic pode gerar melhora nas performances, haja vista que há correlação direta entre ela e o ROE do setor. Por outro, um forte balanço dos bancos menores e de fintechs, aliados a uma política de isenção de tarifas, pressiona os chamados bancões. E estes ainda têm parte representativa da receita atrelada aos custos bancários dos clientes.

Os grandes bancos lideraram as revisões positivas no decorrer de 2020. Agora, o BTG estima que estes tenham lucro de R$ 81 bilhões, R$ 2,4 bilhões mais do que o projetado em setembro de 2020.

A maior parte desta revisão reflete dados do Santander no terceiro trimestre de 2020. Isso porque houve perda de crédito menor do que a esperada e provisões menores do que as anteriores.

Apesar disso, é importante alertar que o impacto real da crise ainda é desconhecido e provisões já apresentam aumento na inadimplência em 2021. No setor de serviços financeiros, mesmo que espera-se que os bancos tenham ganhos para se recuperar em 2021 em relação à 2020, em cerca de R$ 20 bilhões, ainda é esperada uma queda de R$ 2 bilhões em relação aos níveis de 2019.

Os lucros do setor financeiro excluindo bancos também devem ser um pouco menores do que em 2019, em cerca de R$ 415 milhões.

Commodities

Os metais e mineração foram o destaque de revisão positiva para 2021. Foram R$ 48,2 bilhões a mais de lucratividade em 2021 do que era previsto há três meses, de R$ 81,4 bilhões. Esse cenário reflete os maiores preços esperados do minério de ferro para este ano, que deve girar em torno de US$ 130 por tonelada.

Já em relação ao Óleo e Gás, as revisões sofreram influência principalmente do aumento nos preços do petróleo Brent, bem como as declarações de países árabes a favor do controle de produção da commodity.

O lucro consolidado das empresas brasileiras do Ibovespa em 2021, excluindo Petrobras e Vale, está estimado em patamares 24% superiores aos níveis de 2019. Há três meses atrás, este mesmo dado ficava em apenas 15%. Nesse sentido, a maior parte da melhora evidente nos ganhos para 2021 é um reflexo das melhores perspectivas para os exportadores de commodities. Enquanto isso, o setor financeiro impede um melhor desempenho no mesmo período.

Além disso, no próximo ano é considerada a hipótese de um potencial superciclo de commodities, alimentado por um crescimento global sincronizado no pós-crise, pela alta liquidez global, com taxas de juros baixas ou negativas e governos fornecendo maior estímulo fiscal, assim como pela eleição de Joe Biden, que deve reduzir as tensões com a China.

Vale e Petrobras

Em relação à Vale, é esperado que esta relate R$ 114 bilhões em faturamento em 2021, ante estimativa de R$ 73 bilhões há três meses. Isso devido ao preço mais alto do minério de ferro e à depreciação do real frente ao dólar.

Já da Petrobras, espera-se que registre ganhos de R$ 34 bilhões em 2021, ante R$ 29 bilhões há três meses. Vale ressaltar, no entanto, que o faturamento da companhia é muito sensível ao preço do petróleo.

Varejo

A projeção para o varejo também foi positiva, com aumento de 39% (R$ 3,2 bilhões). Dessa forma, destaca-se que parte do setor está exposto a classe B e C, e tende a perder receita com o fim do auxílio emergencial.

Em contrapartida, é possível se beneficiar da atual queda do setor para se posicionar em consumo via shoppings, principalmente os ativos considerados Triple A, que atingem um público A e A+. Entre os principais nomes, Aliansce Sonae (ALSO3) é o que apresenta o balanço mais robusto em termos de Dívida Líquida / EBITDA, contra, com -2,0x contra 2,7x médio do setor.

A retomada das restrições é um fator preocupante, mas a vacina já é uma realidade e o atual desconto no setor acaba se caracterizando uma oportunidade interessante a médio prazo. Atualmente a BR Malls é a menos afetada em termos de ativos fechados, com 7%, seguido pelo Iguatemi, 10%, Multiplan, 13% e Aliansce Sonae 16%.

Outros setores

As projeções de ganhos no setor alimentar também são maiores devido aos excelentes resultados no terceiro trimestre de 2020, em especial da JBS.

Por outro lado, as empresas atuantes na linha de transmissão têm alguns de seus contratos ajustados com base no IGP-M (+23% em 2020), o que fez com que as estimativas do setor fossem dobradas nos últimos três meses, alcançando R$ 2,9 bilhões. Assim, foi destaque o desempenho da Cyrela, que contabilizou um ganho de R$ 1,2 bilhão com os IPOs Plano & Plano, Cury e Lavvi.

As companhias aéreas sofreram a maior baixa de todos os setores, com perdas que somam cerca de R$ 2,1 bilhões.

Por fim, os setores de utilities devem registrar faturamento consolidado de R$ 4,8 bilhões (+ 19%).  além do segmento de bens de capital, com aumento de 133% e projeção de alcançar R$ 2,1 bilhões.

Temporada de balanços

A temporada de balanços se iniciará na primeira semana de fevereiro. Analisaremos os principais resultados nas próximas semanas. Nos acompanhe neste site, no Twitter, e em nosso Instagram.

Autor

Vinicius Torres
Portfolio Solutions da Apx Investimentos

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