Sucessão e Liderança: o protagonismo feminino nas empresas familiares

Por Ana Luisa Porto (Gerente de Wealth Management da Apex) e Lucia Dalla Bernardina Tironi (Gerente de Negócios da Apex)

A sucessão familiar é o processo pelo qual bens, investimentos e responsabilidades empresariais são transferidos para a geração seguinte da família. Essa transição pode ocorrer ainda em vida ou após o falecimento de um familiar.

Em conversas realizadas com mulheres sucessoras de grandes companhias familiares, destacamos importantes desafios e valiosas lições sobre liderança, gestão, governança e o papel da acionista nesses contextos.

1.     “O desafio de ser reconhecida como líder, não apenas como herdeira”

Um dos maiores obstáculos enfrentados pelas sucessoras é a busca por reconhecimento profissional, tanto no ambiente familiar quanto empresarial. Frequentemente, a liderança feminina é avaliada pela perspectiva da herança e não pelos próprios méritos e conquistas pessoais.

A constante necessidade de provar competência é um fardo recorrente para essas mulheres, que precisam demonstrar que são muito mais do que simplesmente portadoras de um "sobrenome importante". É fundamental mostrar que são gestoras preparadas, estratégicas e aptas a tomar decisões difíceis.

Para superar essa barreira, torna-se indispensável o investimento contínuo em capacitação profissional, aprofundando o conhecimento em áreas-chave como gestão, mercado, liderança, finanças e governança. Afinal, a sucessão não deve ser vista como direito adquirido, mas como resultado de preparo e mérito próprios.

2.     “O equilíbrio entre a vida pessoal e as demandas do negócio acabam afastando as mulheres de posições de liderança dentro da organização”

A trajetória das mulheres sucessoras é marcada por constantes desafios no equilíbrio entre vida pessoal e responsabilidades empresariais. Diferentemente de executivos contratados, elas carregam o legado emocional e a expectativa familiar de perpetuação do negócio.

Além disso, frequentemente a sucessão coincide com importantes mudanças pessoais, como maternidade, casamento ou outras etapas marcantes da vida. Diante disso, torna-se ainda mais necessário desenvolver um plano sucessório bem estruturado, definindo claramente papéis e responsabilidades, a fim de garantir um processo sustentável para todas as partes envolvidas.

3.     “Quando o sucedido não aceita o processo, os conflitos podem existir”

Um dos aspectos debatidos foi justamente o despreparo de algumas famílias para o processo sucessório. Em diversas situações, a resistência do sucedido em relação às mudanças leva à postergação da sucessão, especialmente quando existe receio de que a nova geração não consiga manter o sucesso obtido até então.

Para evitar esses conflitos, as sucessoras destacaram a importância de tratar a sucessão como um processo contínuo, e não apenas como um evento isolado. É recomendável que as futuras líderes adquiram experiência prática, passando por diversas áreas da empresa para construir autoridade e confiança ao longo do tempo.

É também essencial que as sucessoras reconheçam a importância emocional desse momento, demonstrando empatia e respeito pelo sucedido. O êxito da transição depende do equilíbrio entre honrar o legado construído e implementar inovações necessárias. Nesse sentido, a comunicação transparente, pautada no respeito mútuo e no compromisso com um futuro sustentável, é fundamental.

4.     “A sucessão traz oportunidade de modernização nos processos da organização”

Mais do que assumir cargos de liderança, a sucessão feminina representa uma oportunidade única para modernizar e transformar o modelo de gestão das empresas familiares.

Mulheres sucessoras frequentemente trazem uma visão estratégica inovadora, enfatizando aspectos como governança corporativa, ESG (ambiental, social e governança), inovação tecnológica e o equilíbrio entre tradição e modernidade. Além disso, a liderança feminina é capaz de romper padrões antigos, contribuindo para a evolução contínua da empresa.

Assim, quando bem estruturada, a sucessão feminina fortalece o negócio, amplia perspectivas e assegura que o legado familiar seja não apenas mantido, mas potencializado com ainda mais sucesso.