Carta do Economista: Queda no crescimento e expectativa de menor juros geram cenário de valorização dos ativos
Por Arilton Teixeira*
Embora a inflação continue em alta, no mês de julho os dados indicaram queda do crescimento das maiores economias (USA, UK, Zona do Euro e China), levando o mercado a esperar menor alta de juros por parte dos bancos centrais. Com isto, houve reversão de parte dos aumentos recentes de juros e retomada da valorização dos ativos financeiros.
No Brasil, os dados sinalizam estabilidade do crescimento. A inflação elevada, parou de subir, fazendo o Banco Central do Brasil (BCB) sinalizar novo aumento da Selic, mas fim próximo do ciclo de altas. Com isto, a Bolsa brasileira segue os mercados mundiais e volta a se valorizar, enquanto o dólar tem queda.
Mercado Externo
No mês de julho os dados confirmaram o cenário de queda do crescimento nos USA, Zona do Euro, Reino Unido (UK) e China. Além disto, a inflação continuou alta e em elevação nestas economias (exceto China).
No UK e na Zona do Euro, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e serviços de julho tiveram novas quedas, indicando perda de ritmo da economia. Embora o PIB do 2º trimestre tenha crescido 4% na Zona do Euro, tivemos queda de crescimento em relação ao trimestre anterior (5.4%).
Na China, o PIB do 2º trimestre teve o menor crescimento das últimas décadas, exceto no início da pandamia. Além disto, os PMIs de manufaturas (49.0) e serviços (53.8) de julho voltaram a cair, sinalizando que a economia continua a perder ritmo.
Nos USA, o PIB do 2º trimestre teve nova queda do crescimento. Além disto, os PMIs de manufaturas e de serviços de julho também tiveram novas quedas, mostrando que o crescimento está caindo, aumentando a possibilidade da economia entrar (ou estar) em recessão.
O mercado de trabalho continua forte em junho, com elevada geração de empregos (372K), baixo desemprego (3.6%) e alto número de vagas de trabalho em aberto (11.254 milhões em maio).
A inflação continua elevada (mês junho): nos USA atingiu 9.1%, na Zona do Euro 8.9% e no UK 9.4% (todos com meta de inflação de 2%). Com isto, os bancos centrais voltaram a agir e os juros subiram forte. O Banco da Zona do Euro (ECB) e o Banco Central dos USA (Fed) elevaram seus juros básicos em julho em 0.5% e 0.75%, respectivamente (o Fed continua a redução do balanço).
Mas, em julho, a forte queda do crescimento nas maiores economias levou os mercados a reduzirem os juros esperados, levando a queda da curva de juros e retomada da valorização das empresas nos USA e no resto do mundo. Este aumento dos juros enfraqueceu o dólar, que devolveu parte dos ganhos dos últimos meses.
Para os próximos meses, o ritmo de retirada dos estímulos monetários continua a ser fundamental. Este ritmo continua dependendo da inflação e do crescimento das maiores economia e definirá se o ajuste nos USA e no mundo será suave (soft landing), com pequena queda do crescimento e queda da inflação, ou com forte queda da atividade (hard landing).
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2022 e os dados econômicos. A inflação esperada para 2022 está em 7.5% (estava em 8.5% em junho). O crescimento esperado para 2022 está em 1.93% (em junho, estava em 1.5%). Já a Selic esperada para dezembro de 2022 está parada em 13.75%.
Quanto aos dados econômicos, os dados liberados em julho continuam sinalizando crescimento. O PMI de manufaturas (S&P Global) de junho teve alta, passando de 58.6 para 60.8. Além disto, o setor de serviços (0.9%) e as vendas no varejo (0.1%) aumentaram em maio.
Embora tenha parado de subir, a inflação continua elevada a despeito das altas da Selic. O IPCA de junho ficou em 11.89% e o IPCA-15 de julho atingiu 11.39%, pressionado pelo setor de serviços. Embora este cenário mantenha a expectativa de nova alta da Selic na reunião de agosto do BCB, a estabilização também sinaliza o fim próximo do ciclo de altas.
Este cenário de estabilização da inflação no Brasil, a expectativa de menor juros nos USA e do fim do ciclo no Brasil levaram a valorização dos ativos e a queda do dólar.
As perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos nos próximos meses continuam a depender: (i) da manutenção da estabilidade interna e do crescimento; (ii) da redução do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA; (iv) da evolução do conflito Ucrânia-Rússia.
A expectativa de juros menores nos USA e da estabilização da inflação no Brasil definiram o cenário doméstico de valorização dos ativos em julho. Nem mesmo o novo gasto devido ao ressarcimento dos governadores pela queda do ICMS alterou o cenário (caiu o veto presidencial no PLP 18). Mas, as eleições ainda podem gerar aumento do risco fiscal mais a frente.
Finamente, o menor crescimento nas maiores economia pode reduzir os preços das commodities, afetando negativamente o ritmo de crescimento do Brasil e o valor de mercado das empresas exportadoras (embora ajude no combate da inflação).
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*Economista-chefe da Apex Partners