Queda dos juros nos USA leva a valorização dos ativos
Por Arilton Teixeira*
O mês de setembro dá continuidade ao cenário de agosto. O mercado de trabalho dos USA continua com perda de ritmo e aumento do desemprego. Como esperado, os juros voltaram a cair nos USA, com sinalização de novas quedas em 2025 pelo “Federal Reserve” (Fed). Com isto, o dólar estabilizou (DXY) e as empresas americanas mantiveram a valorização.
No Brasil, sem novidades do lado fiscal e com a perda esperado do ritmo de atividade econômica, o mercado brasileiro acompanhou o mercado americano. As empresas brasileiras mantiveram a tendência de valorização e o real volta a subir ajudado pelo aumento do diferencial de juros.
Mercado externo
Em setembro, não houve alterações de performance econômica da Europa (Reino Unido e Zona do Euro) ou da China, com os dados liberados apontando menor crescimento. Na China, os PMIs de setembro (Purchasing Managers Index) estão próximos de 50 e o desemprego aumentou.
Nos USA, setembro começa com os dados indicando aumento do desemprego devido a nova queda na geração de empregos. Já a inflação americana (CPI e PCE) volta a subir.
Apesar deste conflito entre inflação e desemprego, o Fed retoma a queda de juros em setembro, sinalizando novas reduções nas últimas reuniões do ano, devido a maior preocupação com o mercado de trabalho (do que com a inflação). Com isto, há fechamento da curva de juros americanos (Gráfico I, datas em inglês).
Além da elevada dívida pública e do seu rápido crescimento, duas fontes de incerteza têm afetado a performance da economia dos USA. Primeiro, a Suprema Corte aceitou analisar o caso das tarifas impostas por Trump e derrubas em 1ª e 2ª instância. Se as tarifas forem eliminadas, deve cair a expectativa de inflação, facilitando a queda dos juros no curto prazo.
Mas, a incerteza quanto os rumos da política comercial tendem a continuar afetando os investimentos e o crescimento dos USA. Segundo o governo Trump continua a tentar demitir a governadora do Fed, cujo caso, começa a ser analisado pela Suprema Corte. Se o Fed perder independência, as expectativas de inflação, os juros e os retornos dos títulos americanos tendem a aumentar no longo prazo, afetando a economia dos USA.
Mercado interno
Segundo o Focus, para 2025, a inflação esperada é 4.81% (era 4.85% há um mês). O crescimento esperado está em 2.16% (era de 2.19% há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 15.0%% (como no mês anterior).
A economia em 2025 cresce em ritmo menor, embora o desemprego continue caindo. Os PMIs de agosto estão abaixo de 50 e IBC-BR, produção industrial e vendas no varejo caíram em julho.
Já inflação voltou assubir em setembro sem o impacto do bônus de Itaipu. O IPCA de agosto teve alta anual de 5.13% e o IPCA-15 de setembro foi de 5.32%. Com isto, o COPOM manteve a Selic nos patamares atuais, para que os efeitos defasados da política monetária possam se fazer sentir.
Em setembro, a estabilidade dos fundamentos fiscais, da disputa com os USA-Brasil e a queda dos juros nos USA, levaram ao fluxo positivo de capital estrangeiro na B3 (Gráfico II) e a nova valorização do Ibovespa (Gráfico VI) e do real.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária e comercial nos USA.
Em setembro, a estabilidade do ambiente econômico permitiu valorização dos ativos domésticos e do real. Em particular, já precificado o risco fiscal para este mandato, novos resultados fiscais ruins já estão nos preços. Mas, no próximo ano, o mercado deve começar a precificar a eleição (ou seja, o risco fiscal para o próximo mandato) o que pode gerar volatilidade.
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*Economista-chefe da Apex