Intervir na Petrobras é repetir aventura que já deu errado

29 de Mar de 2021

Escalada do preço do barril do petróleo, queda de produção entre importantes produtores e acordo político entre a OPEP para manutenção de valorização dos preços, além da retomada econômica global… Os fundamentos para a Petrobras eram promissores, mas, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “tinha um governo no meio do caminho”.

Em fevereiro de 2021, a companhia perdeu mais de R$ 100 bilhões de valor de mercado após interferência do governo ao trocar o comando – isso apesar de um balanço financeiro referente ao último trimestre de 2020 que surpreendeu o consenso de mercado. Quando se faz um bom trabalho em uma estatal, a premiação é ser demitido.

O aumento do preço do petróleo no mercado internacional e a desvalorização do real frente ao dólar resultaram no aumento dos combustíveis — isso após a desvalorização chegar a até 21% para a gasolina e 14% para o diesel quando comparado com o mercado internacional. Os reajustes da companhia, repassando os preços, desagradaram setores da sociedade e motivaram as críticas do presidente Jair Bolsonaro. A queda nas ações refletiu a precificação desse movimento.

Os temores dos investidores não são à toa: o governo de Dilma Rousseff foi marcado pela manipulação de preços da empresa de economia mista a fim de controlar a inflação. A própria empresa calcula que decisões de não repassar os preços internacionais para o diesel e a gasolina entre 2008 e 2018 causaram prejuízo de R$ 180 bilhões para a estatal. Para efeitos de comparação, segundo laudo da Polícia Federal de setembro de 2016, os prejuízos que a Petrobras teve com os esquemas de corrupção desvendados pela Lava Jato poderiam chegar a até R$ 42 bilhões, isto é, quatro vezes menos que o rombo deixado pelo comando artificial dos preços.

Estatais não podem ser utilizadas para se fazerem campanha de reeleição, políticas públicas e, tampouco, assistencialismo aos mais vulneráveis — para isso, o governo já dispõe de enorme orçamento e ferramentas que são, inclusive, mais eficazes. Mais do que isso: ao interferir na empresa, não será prejudicado apenas quem investiu em ações da Petrobras, mas, em última análise, toda a população, com a falta de confiança gerada, instabilidades e até riscos de desabastecimentos.

Luan Sperandio é Editor-chefe da Apex Partners

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