Carta do Economista: Crescimento menor no Ocidente e desconfiança com o Novo Arcabouço Fiscal

Embora superada rapidamente, a crise de desconfiança no setor bancário nos USA em março gerou redução do crédito para o setor privado. Com isto, em abril, os dados passam a mostrar perda de ritmo da economia americana, queda da inflação e dos juros futuros. Neste ambiente, o valor dos ativos de risco tem recuperação e os preços dos títulos do governo americano caem.

No Brasil, a proposta do novo arcabouço fiscal gerou mais incerteza em abril. Embora seja capaz de evitar trajetórias explosivas do endividamento, o arcabouço não é capaz de reduzi-lo. Além disto, o governo propõe enfraquecer a Lei de Responsabilidade Fiscal. Com isto, o Ibovespa fica estagnado. Mas, a entrada de capital estrangeiro atraído pelo diferencial de juros manteve o dólar em queda.

Mercado Externo

Os dados de abril indicam recuperação lenta nas economias europeias (Zona do Euro e Reino Unido) e nos USA, enquanto a China aumenta seu crescimento no 1º trimestre.

Comecemos com a Europa. Na Zona do Euro e no UK, o PMI (Índice dos Gerentes de Compras) de manufatura de abril caiu, mas o de serviços teve alta. Além disto, o PIB do 1º trimestre teve nova queda de crescimento tanto na Zona do Euro e quanto no UK.

Na China, o PIB do 1º trimestre aumentou a taxa de crescimento, como esperado, com crescimento anual em 4.5%.  Mas, os PMIs de abril mostram desaceleração no início do 2º trimestre. Os PMIs de abril de manufaturas (51.9 para 49.2) e de serviços (58.2 para 56.4) tiveram queda.

Nos USA, os dados mostram que a economia teve crescimento menor no 1º trimestre, embora crescimento anualizado maior devido ao efeito base (1º trimestre de 2022 PIB dos USA caiu). A economia criou menos empregos (236K) em março, mas o desemprego caiu para 3.5%.

Finalmente, os PMIs de manufaturas e de serviços de abril subiram (ambos acima de 50) nos USA.  Sinalizando que o impacto da redução de crédito com a crise dos bancos, teve limitado impacto na redução da atividade econômica.

Já a inflação de março teve novas quedas na Zona do Euro (6.9%) e nos USA (5% no CPI e 4.2% no PCE) e no UK (10.1%).

Neste ambiente de menor inflação e crescimento, o mercado já discute se o próximo aumento dos juros será o último do Fed neste ciclo. Com isto, as empresas voltaram a valorizar de mercado e o retorno dos títulos públicos subiram.

Por fim, devemos lembrar o impasse para elevar o teto da dívida dos USA. Embora ainda não tenha tido maiores impactos sobre os preços dos ativos, a possibilidade de um não pagamento da dívida dos USA pode vir a gerar aumento da incerteza e da volatilidade.

Mercado Interno

Comecemos com os dados com as expectativas do Boletim Focus para dezembro de 2023 e os dados econômicos liberados no último mês. A inflação esperada para 2023 é 6.04% (há um mês estava em 5.93%). O crescimento esperado para 2023 está em 0.96% (era 0.9% em fins de março). Já a Selic esperada para dezembro de 2023 está em 12.5% (estava em 12.75%).

Os dados econômicos continuam sinalizando crescimento em queda neste início de 2023. Em fevereiro, a produção industrial (-0.2%) e as vendas no varejo (-0.1%) tiveram queda. O PMI de manufaturas (S&P Global) de março tem queda, passando de 49.2 para 47.0, enquanto o de serviços tem alta, passando de 49.8 para 51.8. Já o desemprego (janeiro-março) teve alta para 8.8%.

A inflação continua em queda convergindo para a meta (3.25%em 2023). O IPCA de março teve alta anual de 4.65% e o IPCA-15 de abril teve alta de 4.16%, abrindo espaço para o BCB começar a discutir a redução dos juros (embora as expectativas de inflação do Boletim Focus para 2023 e 2024 continuam subindo, as de 2025 e 26 estabilizaram).

Para os próximos meses, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos continuam a depender: (i) do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA.

O governo enviou ao Congresso o projeto com o novo marco fiscal no final de março, que reduz a possibilidade de aumentos explosivos da dívida. Mas, é claro que não é capaz de gerar queda do endividamento, exceto se o crescimento do Brasil ficar continuamente acima de 4% e/ou com aumento de impostos. Além disto, o projeto enfraquece a LRF (o Art. 9º é reescrito). Com isto, aumenta a incerteza, o risco fiscal e tributário.

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*Economista-chefe da Apex Partners