Carta do Economista: Cenário é marcado pela incerteza com a política econômica nos USA e ausência de fatos novos no Brasil
Por Arilton Teixeira*
Em janeiro, os dados mostram crescimento de 5.4% na China no 4º trimestre (com desconfiança do mercado). Nos USA, o crescimento cai e a inflação aumenta. A incerteza é quanto aos efeitos da política comercial (tarifas) sobre inflação e crescimento. Neste cenário, o Fed interrompeu o corte de juros, a curva de juros longas estabilizou e as empresas reduziram o ritmo de valorização.
No Brasil, o risco fiscal continua sendo o foco de incertezas em 2025. O anúncio do governo de déficit primário de 0.1% do PIB em 2024, foi recebido com desconfiança. Mas, em janeiro, o fator importante foi a ausência de fatos novos a gerar incertezas e a sinalização de pacificação entre o executivo federal e o BCB, permitindo um cenário de valorização das empresas e do real.
Mercado Externo
Em janeiro, não houve alteração na performance das maiores economias. Na China a inflação e os juros devem continuar baixos. Na Europa, os juros tendem a continuar caindo, devido ao baixo crescimento. Nos USA, a redução dos juros deve ser mais lenta, devido o repique da inflação e o ritmo da economia.
Na Europa a economia continua fraca. No UK, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras” de manufatura e serviços) subiram, mas continuam próximo de 50, sinalizando economia próximo a estagnação. Na Zona do Euro, os PMIs caíram e o PIB do 4º tri teve crescimento marginal de 0%.
Na China, não houve mudanças para 2025. O crescimento de 5.4% no 4º trimestre, gerou dúvidas sobre a confiabilidade dos dados. Isto porque, a inflação para consumidores e produtores é zero ou negativa, os PMI de janeiro caíram, estando ambos próximo de 50. Finalmente, a esperada disputa tarifária com os USA tende a colocar mais um redutor no crescimento.
Nos USA, o crescimento do PIB no 4º trimestre de 2.3% (abaixo do esperado). Mas, as desregulamentações, as tarifas e o corte de impostos do governo Trump tendem a acelerar a inflação e reduzir o ritmo de queda dos juros de curto prazo (Gráfico I). Mais ainda, sem expectativa de queda do déficit público, os juros longos (acima de 1 ano) tendem a manter-se elevados (Gráfico I), dificultando a valorização das empresas e valorizando o dólar.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2025. A inflação esperada é 5.50% (era de 4.96% a um mês). O crescimento esperado para 2025 está em 2.06% (estava em 2.01% a um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 15% (há um mês era 14.75%).
Quanto a performance econômica, embora esteja crescendo, há sinais de perda de ritmo no 4º trimestre (no Focus, o crescimento esperado em 2024 será de 3.49%), com os PMI de manufaturas e de serviços tendo baixa em dezembro.
A inflação continua elevada. O IPCA de dezembro teve alta anual de 4.83% e o IPCA-15 de janeiro foi de 4.50% (influenciado pelo “bônus de Itaipu”). Com isto, o COPOM que aumentou o juro em 1% em dezembro e janeiro, deve continuar aumentando em 2025.
Não houve alterações no cenário doméstico, que segue dominado pelo elevado risco fiscal. O anúncio do governo de que teria fechado 2024 com déficit primário de 0.1%, gerou questionamentos dos resultados, tendo em vista os atuais fundamentos fiscais. Mas, com ausência de fatos novos gerando instabilidade e a postura do presidente Lula em defesa do Banco Central, a curva de juros parou de abrir (Gráfico II) permitindo que os ativos brasileiros e o real se valorizassem.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA.
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*Economista-chefe da Apex