Carta do Economista: Sinalização de queda de juros nos USA e acomodação da disputa USA-Brasil levam a valorização dos ativos
Por Arilton Teixeira*
O mês de agosto começa com os dados indicando criação de empregos nos USA menor do que o esperado. Estes dados, juntamente com o discurso do presidente do Fed em Jacson Hole, aumentaram as expectativas de corte de juros nos USA em setembro. Neste cenário, as empresas americanas voltaram a valorizar e o dólar perde valor frente principais moedas.
No Brasil, tivemos dois eventos, o aumento das tarifas americanas sobre produtos brasileiros (de 10% para 50%, em 30/07) e a reação do STF a aplicação da Lei Magnitsky. Mas, como a economia brasileira é fechada e a decisão do STF foi contornada, o impacto destes eventos foi passageiro e o mercado doméstico, acompanhando o externo, fechou com valorização das empresas e do real.
Mercado externo
Em agosto, não houve alterações sobre a performance das economias europeias (Reino Unido e Zona do Euro) que mantem baixo crescimento. Na China, os dados em agosto continuam sinalizando baixo crescimento. Os PMIs (Purchasing Managers Index) estão próximos de 50 e o desemprego aumentou.
Nos USA, o mês de agosto começa com os dados indicando o mercado de trabalho em ritmo mais lento do que se esperava, com queda na geração de emprego. Entretanto, a inflação americana (CPI) volta a subir em agosto.
Apesar deste conflito entre inflação e desemprego, o mercado espera queda dos juros para setembro (Ver Gráfico I), devido a fraqueza do mercado de trabalho (apontada em Jackson Hole).
O que pode começar a gerar nova fonte incerteza é a tentativa de Trump de demitir governadora do Fed. Se o Fed vir a perder a independência e a credibilidade, as expectativas de inflação, dos juros e dos retornos dos títulos americanos devem aumentar. O mercado passando a cobrar maior prêmio para manter estes títulos em carteira.
Finalmente, em 30/08, o judiciário dos USA (2ª instância) derrubou a maioria das alíquotas impostas por Trump. Mas, permitiu que continuassem em vigor até meados de outubro, dando tempo para que a Suprema Corte decida o que fazer. Caindo as alíquotas, reduz a expectativa de inflação, facilitando a queda dos juros no curto prazo.
Mercado interno
Segundo o Focus, para 2025, a inflação esperada é 4.86% (era 5.09% há um mês). O crescimento esperado está em 2.18% (era de 2.213% há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 15.0%% (como no mês anterior).
A economia em 2025 continua em ritmo menor. As vendas no varejo, IBC-BR (junho) e os PMIs de manufaturas e serviços (julho) caíram, embora, o desemprego em junho continue em baixa.
Já inflação voltou a cair em agosto (puxada pelo bônus de Itaipu). O IPCA de julho teve alta anual de 5.23% e o IPCA-15 de agosto foi de 4.95%. Apesar disto, o COPOM deve manter a Selic nos patamares atuais por mais tempo, até que possíveis efeitos defasados da política monetária possam se fazer sentir.
Em julho e agosto, a disputa com os US, levou a saída do investidor estrangeiro (Gráfico II). Mas, esta saída menor em agosto (até dia 20/08), teve impacto limitado, com o Ibovespa e o real fechando em alta, puxados pelo bom resultado das empresas em T2.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária e comercial nos USA.
A disputa US-Brasil iniciada em julho e agravada em agosto (aplicação da Lei Magnistky e reação do STF) tiveram efeitos pontuais. Pelo lado comercial, sendo o Brasil um país fechado, o impacto agregado das tarifas dos US deve ser pequeno. Quanto a Lei Magnistky, a reação do STF foi limitada até o momento, não levando ao isolamento do Brasil no mercado internacional.
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*Economista-chefe da Apex