Carta do Economista: Mercado doméstico descola do mercado internacional com a disputa comercial USA-Brasil
Por Arilton Teixeira*
Julho foi marcado pela aprovação, pelo Congresso dos USA, da redução de tributos (e aumento do déficit), pela conclusão de vários acordos comerciais (Japão, EU, Coreia do Sul, Vietnam etc.) e pela manutenção do crescimento nos USA. Com isto, foi reduzida a incerteza dos impactos das tarifas, levando a recuperação do dólar (DXY) e manutenção da tendência de valorização das empresas americanas.
No Brasil, não tivemos alterações no cenário de crescimento (menor em 2025) e inflação persistente. Mas, a combinação de disputa comercial com os USA e risco fiscal, levou a perda de valor das empresas e aumento do dólar, com a saída do investidor estrangeiro.
Mercado Externo
Em julho, as economias europeias (Reino Unido e Zona do Euro) continuaram em ritmo lento. Na China, os PMIs (Purchasing Managers Index) de julho continuam sinalizando baixo crescimento, embora o PIB tenha crescido 5.2% em termos anuais no T2. Nos USA, a economia cresce no 2º trimestre (3% ao ano), desemprego cai e inflação alta tem repique em junho.
Quanto a política comercial dos USA, vários acordos foram fechados em julho (EU, Japão, Coreia do Sul, Vietnam, etc), reduzindo a incerteza quanto ao retorno das tarifas reciprocas em 1º de agosto (tarifas que continuam judicializadas e sem prazo de solução).
A aprovação da redução de impostos nos USA, gerou expectativa de aumento do déficit, levando a nova abertura da curva de juros nos USA em julho (Gráfico I, datas em padrão dos USA).
Neste cenário de crescimento e inflação, o Fed manteve os juros em julho, sinalizando que precisa de mais informações antes de voltar a reduzi-los.
Há outra interpretação para a resistência do Fed em reduzir juros. A disputa com Trump, obriga o Fed a ser ainda mais conservador. Voltando a reduzir juros, somente quando não houver dúvidas sobre esta decisão. Caso contrário, o mercado poderia interpretar a redução como perda de independência do Fed, podendo gerar impactos maiores, aumentando a expectativa de inflação e abrindo ainda mais a curva de juros.
Mercado Interno
Segundo o Focus, para 2025, a inflação esperada é 5.09% (era 5.24% há um mês). O crescimento esperado está em 2.23% (era de 2.21% há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 15.0%% (como no mês anterior).
Os dados continuam a indicar perda de ritmo da economia em 2025. A produção industrial (maio), as vendas no varejo (maio) e os PMIs de manufaturas e serviços (junho) caíram (embora, o desemprego em junho continue em baixa).
Já inflação estabilizou. O IPCA de junho teve alta anual de 5.35% e o IPCA-15 de julho foi de 5.30%. Com isto, o COPOM anuncia manutenção da Selic, até que possíveis efeitos defasados da política monetária ocorram.
Em julho, a disputa comercial com os US, junto com o ambiente de incerteza com o risco fiscal, levou a saída do investidor estrangeiro (Gráfico II), gerando queda do Ibovespa (ver abaixo) e aumento do dólar.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária e comercial nos USA.
O cenário americano vinha permitindo a valorização do real e dos ativos no Brasil. Mas, a disputa comercial US-Brasil e o risco fiscal alteraram este cenário, levando a queda do real e do Ibovespa.
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*Economista-chefe da Apex