Carta do Economista: Melhora no Cenário Brasileiro leva à valorização dos ativos domésticos

Por Arilton Teixeira*

Em maio, os dados continuam mostrando perda de ritmo das maiores economias. Mas, o mercado de trabalho continua forte e a inflação tem repique nos USA, levando ao aumento dos juros futuros. Neste ambiente, o valor das empresas americanas ficou sem tendência (Nasdaq sobe e Dow Jones cai) e o dólar tem valorização.

No Brasil, o Congresso altera várias propostas do governo (como a Lei do Arcabouço Fiscal e o Marco do Saneamento), levando a melhora nas expectativas. Ao mesmo tempo, a economia dá sinais de aceleração e a inflação continua caindo. Com isto, o Ibovespa descola do mercado americano, fechando o mês com valorização (o dólar fica estável).

Mercado Externo

Os dados de abril indicam interrupção na recuperação das economias europeias (Zona do Euro e Reino Unido) e da China, enquanto nos USA não há tendência clara.

Comecemos com a Europa. Na Zona do Euro e no UK, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e de serviços caíram em maio (os PMIs de manufaturas continuam abaixo de 50).

Na China, os PMIs de maio continuam a mostrar desaceleração da economia no 2º trimestre. Os PMIs de abril de manufaturas (49.2 para 48.8) e de serviços (56.4 para 54.5) tiveram queda.

Nos USA, o PMI de manufaturas cai em maio (para 48.5) e sinaliza contração do setor, enquanto o PMI de serviços sobe (55.1), sinalizando aceleração. Enquanto isto, o mercado de trabalho continua forte. A criação de empregos (296K) em março volta a aumentar e o desemprego cai para 3.4% abril, mostrando um mercado de trabalho forte e que deve continuar a pressionar a inflação.

Já a inflação de abril trouxe preocupação. Embora tenha caído no UK (de 10.1 para 8.7%), voltou a subir na Zona do Euro (7.0%) e nos USA (4.4% pelo PCE de abril).  Além disto, o núcleo da inflação nos USA estabilizou num patamar elevado e acima da meta. Neste ambiente, o mercado volta a discutir a possibilidade de um novo aumento dos juros pelo Fed em sua reunião de junho.

Quanto ao impasse para elevar o teto da dívida dos USA, enquanto escrevemos, o Governo e o Congresso dos USA sinalizam que um acordo foi atingido, devendo ser votado antes do fim do mês de maio (mas, uma parte dos republicanos é contra o acordo, pois não corta os gastos).

Mercado Interno

Comecemos com os dados com as expectativas do Boletim Focus para dezembro de 2023 e os dados econômicos liberados no último mês. A inflação esperada para 2023 é 5.71% (há um mês estava em 6.04%). O crescimento esperado para 2023 está em 1.26% (era 1.0% em fins de abril). Já a Selic esperada para dezembro de 2023 está em 12.5%.

Os dados econômicos começam a indicar um aumento do crescimento. Em março, a produção industrial (1.1%), as vendas no varejo (0.8%), o setor de serviços (0.9%) e o PMI de serviços de abril tiveram alta, enquanto o PMI de manufaturas (S&P Global) de abril tem queda (de 47.0 para 44.3).

A inflação continua em queda, convergindo para a meta. O IPCA de abril teve alta anual de 4.18% e o IPCA-15 de maio teve alta de 4.07%, abrindo espaço para o BCB começar a discutir a redução dos juros. O problema é que o núcleo da inflação continua alto, devido a redução do índice ainda estar sendo puxada pela queda dos preços de commodities (energia e alimentos).

Como sempre falamos, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos continuam a depender: (i) do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA.

Em maio, lideranças no Congresso Nacional sinalizaram que não vão aceitar propostas do governo de mudanças na regulação recentemente aprovadas (como o Marco do Saneamento), levando a uma melhora nas expectativas e a valorização dos ativos. Além disto, embora o projeto do Arcabouço Fiscal apresentado pelo relator, e votado pela Câmara, faça mudanças marginais, reduz os aumentos de gastos de 2024, contribuindo para a melhora dos fundamentos fiscais.

Quer ter acesso à Carta de junho completa?

Clique aqui e seja o capixaba mais bem informado que você conhece!

*Economista-chefe da Apex