Carta do Economista: crescimento com inflação domina cenário elevando a pressão sobre Bancos Centrais
O mês de junho deu continuidade ao cenário do mês anterior. No mercado internacional, temos a manutenção do forte ritmo de crescimento nos EUA e na China. Na Europa, a sinalização é de aumento do ritmo de recuperação da economia, mas ainda um pouco mais lento.
O maior foco de instabilidade é o aumento da informação. Mesmo na Europa, com crescimento mais lento, houve elevação da informação. Com isso, as decisões de política monetária dos bancos conhecidos ainda mais em foco, gerando volatilidade.
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No Brasil, os dados também apontam para um crescimento maior em 2021 do que esperado no início do ano. Mas aqui a inflação também está mais elevada e continua aumentando, levando o Banco Central do Brasil (BCB) a nova elevação dos juros. O novo ponto de incerteza foram as acusações na CPI da Covid, envolvendo o Presidente Jair Bolsonaro.
Este ambiente de crescimento manteve a valorização das bolsas durante todo o mês no mercado externo. No Brasil, a reação da economia e a reação do BCB com o aumento dos juros também levou à valorização das empresas, queda do dólar e do risco país durante a maior parte do mês. Mas na última semana as acusações contra Bolsonaro na CPI da Covid geram queda no Ibovespa.
Mercado Externo
Os dados continuam indicando recuperação na Europa e manutenção do crescimento na China e nos EUA. Na zona do euro, a produção industrial de abril teve aumento de 0,8% e o Índice dos Gerentes de Compras (PMI em inglês) do setor de serviços de junho subiu de 55,2 para 58 pontos, indicando que a recessão vai ficando para trás.
No Reino Unido, os PMIs de serviços e manufaturas tiveram ligeira queda para 64,2 e 61,7. Possivelmente, refletindo a extensão das medidas de isolamento. Mas estão bem acima de 50, mostrando que a economia continua em expansão.
Passemos agora para as economias que já estão em forte crescimento. Nos EUA, a economia continua sinalizando forte crescimento. Foram criadas 9.286 vagas de emprego em abril, a produção industrial de maio subiu 0,8% e os PMIs de junho de manufaturas e serviços ficaram em 62,8 e 64,8. Já na China, a produção industrial de maio teve alta anual de 8,8%, em linha com o esperado, e os PMIs ficaram estáveis.
O que vem chamando atenção nestes mercados é a alta da inflação. Nos EUA (Gráfico I), a inflação acumulada de maio nos últimos 12 meses foi de 5%, a mais alta na última década. Embora ainda um pouco menor, a inflação do consumidor subiu 2% em maio na zona do euro e 2,1% no Reino Unido. Já os preços ao produtor (PPI em inglês) também subiram forte em maio: China (+9%), zona do euro (+7,6%) e EUA (+6,6%).
Neste cenário, em suas reuniões de junho, os bancos centrais das economias maduras não adotaram alterações. Mas vários deles indicaram que a inflação começa a ser uma preocupação (Fed e BoE). Além disso, o Fed sinalizou que já é o momento de começar a discutir a redução da compra de ativos (tapering).
Mercado Interno
Vamos começar listando as expectativas do Boletim Focus e os dados econômicos. O crescimento esperado para 2021 voltou a subir e está em 5,05%, sendo que há um mês era de 3,96%). Já a inflação esperada continua em alta, subindo de 5,48% em fins de maio para 5,97% em fins de junho de 2021. Já a Selic esperada para dezembro de 2021 subiu de 5,75% em fins de maio para 6,5% em fins de junho.
Em junho, os dados liberados mostraram que a economia brasileira voltou a acelerar o crescimento e que já zerou as perdas na produção geradas pela pandemia. O PIB do primeiro trimestre de 2021 teve crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior e de 1% quando anualizado. Um fato importante a mencionar é que este crescimento foi puxado pelo investimento ou formação bruta de capital (FBKF), como vemos no Gráfico II.
Os Índices dos Gerentes de Compras de manufaturas e serviços do Brasil também subiram em maio, passando de 52,3 para 53,7 e de 42,9 para 48,3, respectivamente. Além disso, o setor de serviços e as vendas no varejo também tiveram alta mensal em abril, de 0,7% e de 1,8%, respectivamente. Finalmente, o IBC-Br teve alta de 0,44% em abril.
Com este crescimento, a arrecadação do governo aumentou nos 3 níveis. O governo teve superávit primário e nominal em abril de R$ 24,3 bilhões e de R$ 30 bilhões, respectivamente, ajudando a reduzir o risco fiscal.
Quanto à inflação, os dados continuam a indicar alta. O IPP de abril teve alta anual de 28,5%. O IGP-DI de maio acumulou alta de 36,6%. Já o IPCA de maio e o IPCA-15 de junho acumularam alta de 8,06% e de 8,13% em 12 meses.
Finalmente devemos mencionar mais dois acontecimentos. Primeiro, com a elevada inflação, o Banco Central do Brasil (BCB) elevou a Selic para 4,25% em sua reunião de junho e alertou que novo aumento de mesma magnitude ou maior pode ocorrer na próxima reunião. Segundo, embora ainda não muito claro em suas implicações, devemos mencionar as acusações feitas contra o Presidente da República na CPI da Covid, o que pode aumentar a instabilidade política.
Como sempre temos falado, as perspectivas da economia e dos preços dos ativos em 2021 dependem: (i) da contenção da pandemia; (ii) da manutenção da estabilidade política interna; e (iii) do avanço das reformas, reduzindo o risco fiscal e inflacionário.
O item (i) e o impacto da vacinação já foram bastante discutidos em cartas anteriores. Quanto ao item (ii), as acusações recentes na CPI da Covid têm o potencial de aumentar a instabilidade política, podendo interromper o crescimento e a valorização dos ativos. Quanto ao item (iv), as reformas para garantir a estabilidade macro não andam ou são muito tímidas, como a reforma administrativa em discussão.
Renda Fixa: EUA
Como podemos ver no Gráfico III, o aumento dos retornos dos títulos do governo dos EUA começa em agosto de 2020 com a redução do risco da pandemia, com a recuperação da economia e com a vacinação. Finalmente, já em 2021, o aumento da inflação trouxe novo aumento dos retornos, que foram interrompidos pela postura do Fed, dizendo não ver razões para reduzir os estímulos monetários e a compra de ativos (tapering).
Finalmente, em junho, o Fed assume que é chegado o momento de iniciar as discussões para o tapering. Dado o ritmo de crescimento e a inflação nos EUA, a discussão dentro do Fed sobre a redução dos atuais estímulos monetários tende a dar novo impulso de alta nos retornos dos títulos americanos.
Em relação às perspectivas para os próximos meses, devemos considerar três fatores, além do avanço da vacinação. O primeiro fator é a discussão e a implementação do tapering. O segundo fator é o grande crescimento do déficit público americano, que também tenderia a aumentar os retornos. Quanto maior for o tapering e o déficit americano, maior tendem a ser os retornos dos títulos públicos.
O terceiro fator é o aumento do crescimento e da inflação nos EUA. Aqui, também, quanto maior o crescimento e quanto maior a inflação, maiores os retornos pagos pelos títulos do governo.
Renda fixa: Brasil
Os retornos dos títulos públicos brasileiros estão subindo desde agosto de 2020, devido ao aumento do risco fiscal, da inflação e dos retornos dos títulos do governo americano.
A despeito dos aumentos de gastos do governo federal, da elevação do crescimento econômico e da arrecadação do governo, a maior estabilidade política e a queda dos retornos pagos pelos treasuries permitiu a estabilização dos retornos pagos pelos títulos do governo brasileiro (ver Gráfico IV).
Para os próximos meses, os retornos dos títulos continuam dependendo: (i) do avanço da vacinação e da recuperação econômica; (ii) da instabilidade política; (iii) da votação das reformas, reduzindo o risco fiscal e inflacionário; e do (iv) tapering e/ou retorno dos títulos americanos.
O item (i) já foi bastante discutido. Quanto aos itens (ii) e (iii), as reformas continuam não avançando, ou sendo bastante tímidas para reduzir os gastos públicos (como a reforma administrativa). Mas a estabilidade política e o retorno do crescimento têm permitido reduzir o risco fiscal, dominando o cenário e levando a estabilização vista no Gráfico IV. Quanto ao item (iv), a discussão do tapering tende a aumentar os retornos dos treasuries, puxando o retorno no Brasil.
Finalmente, nos últimos dias de junho, a CPI da Covid gerou acusações contra Bolsonaro. Embora até o momento não tivemos impactos maiores no mercado doméstico, essas acusações têm o potencial de gerar forte instabilidade política, devendo ser acompanhadas com atenção.
Para sintetizar, quanto maior é a incerteza, o risco fiscal e inflacionário, maiores devem ser os retornos dos títulos públicos. Este cenário pode ser exacerbado com a discussão do tapering.
Renda variável/ações: EUA
O aumento dos retornos da renda fixa em fins de fevereiro e início de março, levou os principais índices das bolsas americanas a perderem a tendência de alta (Gráfico V). Mas a estabilização e a reversão destes retornos levaram os principais índices americanos a retomar a valorização, sendo que o S&P 500 e a NASDAQ voltaram a bater novos recordes em junho.
Já o início da discussão do tapering deve voltar a afetar o valor das empresas, ainda que em um ambiente de forte crescimento. Além disso, a completa reabertura da economia pode impactar negativamente os setores de tecnologia, que tiveram grande aumento de demanda e de rentabilidade com o fechamento das cidades e os programas de ajuda.
Quanto às perspectivas para os próximos meses, a economia dos EUA está acelerando. Mas o efeito colateral deste cenário é a inflação em alta. Quanto maior o crescimento e quanto maior a inflação, maior a probabilidade de início do tapering, o que tende a impactar negativamente o valor das empresas e positivamente a renda fixa.
Renda variável/ações: Brasil
A recuperação da economia e a estabilidade política no segundo trimestre de 2021 permitiram que o Ibovespa retomasse a valorização e voltasse a bater novos recordes (Gráfico VI). Neste momento, o maior foco de incerteza são as acusações contra o Presidente, que podem gerar instabilidade e volatilidade.
Como temos repetido, as perspectivas do mercado acionário do Brasil dependem: (i) da recuperação/vacinação; (ii) da estabilidade política; e (iii) do avanço das reformas, reduzindo o risco fiscal e inflacionário.
As reformas macro e as privatizações não avançam. Mas o crescimento e a maior estabilidade política até fins de junho dominaram o ambiente. Agora, é acompanhar a CPI da Covid e seus efeitos sobre a estabilidade política.
Mesmo que a estabilidade política vivida no segundo trimestre continue, temos ainda outro risco. Se os títulos dos títulos dos EUA voltarem a subir com o afilamento , eles devem puxar ainda mais os juros domésticos. Neste caso, a valorização das empresas pode perder ritmo ou ser interrompida com a migração dos investimentos para a renda fixa. É claro que a instabilidade política doméstica tende a acelerar esta migração e reduzir ainda mais o valor das empresas.
Autor
Equipe Apex