Carta do Economista: Incertezas com a política econômica dos USA continuam a dominar cenário
Por Arilton Teixeira*
Em abril, o cenário foi marcado pela volatilidade com as idas e vindas nas políticas comercial (tarifas) e monetária nos USA, que derrubou o dólar, o preço das empresas e dos títulos públicos. Mas, no decorrer do mês, a suspenção das tarifas recíprocas por 90 dias e a declaração de Trump de que não iria demitir o presidente do Fed, permitiu uma reação dos ativos. Finalmente, no fim do mês, sinais de perda de ritmo dos USA e China, voltam a gerar incerteza.
No Brasil, sem mudanças no risco fiscal e no cenário doméstico, a perda de atratividade dos ativos dos USA permitiu a valorização do real e do Ibovespa e o fechamento da curva de juros.
Mercado Externo
Em abril, como no mês anterior, não tivemos alterações no cenário de crescimento, inflação e juros Zona do Euro e UK. Na China, os PMIs de abril sinalizam maior desaceleração do crescimento, refletindo os efeitos da guerra comercial com os USA. Mas, a maior fonte de incerteza, mais uma vez, foram as idas e vindas da política comercial (tarifas) e monetária (demissão do presidente do Fed) nos USA.
Começámos o mês de abril com o anúncio das tarifas recíprocas pelos USA, gerando expectativas de recessão e incertezas quanto a inflação. Neste novo cenário de crescimento e inflação, os ativos dos USA (“treasuries” e dolar) deixam de ser usados como proteção, acentuando a queda dos preços dos títulos americanos e desvalorizando o dólar frente as moedas fortes.
Mas, mudanças de postura do governo americano durante o mês, alteraram o cenário. Primeiro, o governo recua na adoção das tarifas recíprocas por 90 dias, abre exceções para vários produtos (eletrônicos) e sinaliza tentativa de negociação com a China. Finalmente, o governo Trump recua e diz não haver intenção de demissão, mantendo a independência da política monetária.
Com estas mudanças, os preços dos ativos americanos reagiram. A curva de juros devolve parte dos aumentos e o dólar e as empresas recuperam parte das perdas. Mas, os dados do PIB dos USA do 1º trimestre com crescimento negativo (-0.3%), aumentou o risco, ao sinalizar que as incertezas com a política econômica já afetam a economia americana.
Mercado Interno
Segundo o Focus, para 2025, a inflação esperada é 5.55% (era de 5.65% há um mês). O crescimento esperado está em 2.0% (era de 1.97 há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 15% (sem alterações).
Os dados sinalizam estabilização do crescimento em nível menor em 2025. O PMI (março) de manufaturas cai, mas o de serviços sobe, o IBC-BR (fevereiro) sobe acima do esperado. Além disto, as vendas no varejo e serviços voltaram a aumentar em fevereiro.
A inflação continua em elevação. O IPCA de março teve alta anual de 5.48% e o IPCA-15 de abril foi de 5.49%. Com isto, o COPOM, em sua reunião de maio, deve aumentar novamente a Selic.
Quanto ao risco fiscal, não há alterações. Mas, com o foco de instabilidade nas mudanças da política econômica e a incerteza quanto a performance dos ativos americanos, a curva de juros continuou fechando.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária e comercial nos USA.
A mudança do cenário americano, discutida acima, gerou incertezas, mas permitiu a valorização dos ativos no Brasil. Contudo, se o risco fiscal voltar a pressionar, devemos ter interrupção ou mesmo reversão desta valorização (embora tenham caído, os juros estão ainda bem elevados).
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*Economista-chefe da Apex