Carta do Economista: Acordos comerciais avançam, mas incertezas continuam a dominar cenário
Por Arilton Teixeira*
Em maio, as negociações comerciais avançaram, com vários acordos sendo anunciados (US-China, US-UK, UK-Índia), reduzindo as expectativas de recessão. Mas, continuam as incertezas quanto o rumo das tarifas que passam a depender de decisão do judiciário dos USA. No campo fiscal, avança a proposta de corte de impostos (e maior déficit), enquanto a nota de crédito soberano dos USA é cortada (Moody’s). Neste cenário, embora o valor das empresas americanas tenha devolvido as perdas de abril ajudadas pelos avanços comerciais, o dólar mante-se desvalorizado e o retorno dos títulos públicos dos US continua elevado.
No Brasil, sem mudanças no risco fiscal, com crescimento e queda da inflação, o cenário permitiu a valorização do real, do Ibovespa e o fechamento da curva de juros. Já o aumento do IOF em fins de maio, ainda em debate no Congresso, gerou incerteza quanto as contas públicas.
Mercado Externo
Em maio, os sinais são de perda de ritmo da economia na Zona do Euro e sinais de recuperação no Reino Unido (UK). Na China, os PMIs (Purchasing Managers Index) de maio continuam sinalizando baixo crescimento nos serviços e contração em manufaturas.
Nos USA, os comerciais acordos anunciados (China-USA, USA-UK) permitiram a recuperação da economia em maio. Os PMIs de maio mostram avanço dos serviços e manufaturas, reduzindo a possibilidade de recessão.
Embora tenham ocorridos avanços nas disputas, com vários acordos comerciais anunciados, a política comercial dos USA continua sendo fonte de incerteza. Aproxima-se o fim do período de suspensão das tarifas recíprocas (em 09/07 e novas ameaças feitas contra a União Europeia). Além disto, a elevação de tarifas foi judicializada nos USA, sem prazo para resolução.
A esta fonte de incerteza, junta-se a redução da nota de crédito dos USA pela Moody’s, com a expectativa de aumento do déficit fiscal com o pacote de corte de imposto (afetando ainda mais a credibilidade dos ativos dos USA). Com isto, o retorno dos títulos públicos dos USA continuam elevados (ver Gráfico I) e o dólar se desvalorizando frente as moedas fortes.
Mercado Interno
Segundo o Focus, para 2025, a inflação esperada é 5.55% (como era há um mês). O crescimento esperado está em 2.14% (era de 2.0% há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 14.75%% (era 15% há um mês).
Os dados sinalizam crescimento menor em 2025, puxado pela agropecuária no 1º tri de 2025 (ver Gráfico II). Os pontos positivos são o crescimento do investimento (FBKF no Gráfico II) e a queda do desemprego, que atingiu 6.6% (no trimestre fev-abr).
Embora elevada, a inflação dá sinais de queda. O IPCA de abril teve alta anual de 5.53% e o IPCA-15 de maio foi de 5.40%. Com isto, após o aumento da Selic em maio, a expectativa é de que não haverá novas altas, com cortes podendo começar no 2º semestre.
O risco fiscal no Brasil atual está estabilizado e nos preços e o foco de incerteza atual continua nas mudanças da política comercial e fiscal dos USA.
Para 2025, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária e comercial nos USA.
O cenário americano continua permitindo a valorização dos ativos no Brasil. Contudo, se o risco fiscal voltar a pressionar, devemos ter interrupção ou mesmo reversão desta valorização. Como mostrou o episódio de elevação do IOF em fins de maio, que gerou mais incertezas devido ao impacto imediato sobre os fundos multimercado e o crédito.
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*Economista-chefe da Apex